A VELOCIDADE DA REVISÃO JUDICIAL RESPONSIVA

AGENDA, TIMING E DEFESA DA DEMOCRACIA NO STF

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.956

Palavras-chave:

Tempo Decisório, Revisão Judicial Responsiva, Supremo Tribunal Federal, Erosão Democrática, Controle de Agenda, Política Judicial

Resumo

Este artigo investiga o papel do tempo decisório como uma dimensão crucial da revisão judicial responsiva, focando na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o governo Bolsonaro (2019-2022). Argumenta-se que controlar quando decidir é tão crítico quanto o resultado substantivo para cortes que enfrentam erosão democrática. A análise centraliza-se em um estudo comparativo de dois casos similares (ADPFs 622 e 623) que questionaram decretos presidenciais que visavam reduzir a participação da sociedade civil em conselhos federais. Apesar das suas semelhanças, os casos tiveram prazos decisórios drasticamente diferentes (528 vs. 1343 dias), principalmente devido ao uso estratégico de ferramentas processuais como pedidos de vista por um único ministro. O estudo conclui que, embora a fragmentação dos poderes de pauta entre os ministros crie vulnerabilidades para táticas de delay, poderes individuais como liminares monocráticas também podem ser usados estrategicamente para neutralizar tal obstrução. A conclusão enfatiza que uma revisão judicial responsiva eficaz requer não apenas uma maioria favorável à democracia, mas também controle institucional sobre o timing para prevenir sabotagem interna e garantir decisões tempestivas contra práticas autoritárias.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Tailma Santana Venceslau, USP - Universidade de São Paulo

Doutoranda em Ciência Política na Universidade de São Paulo e bolsista CAPES (PROEX). Pesquisadora no Grupo de Pesquisa Judiciário e Democracia (JUDE)

Referências

AMORIM NETO, O.; COX, G. W.; MCCUBBINS, M. D. Agenda power in Brazil’s Câmara dos Deputados, 1989-98. World Politics, vol. 55, p. 550-578, 2003.

ARGUELHES, D.; RIBEIRO, L. M. The court, it is I? Individual judicial powers in the Brazilian Supreme Court and their implications for constitutional theory. Global Constitutionalism, p. 236-262, 2018.

ARGUELHES, D.; HARTMANN, I. A. Timing control without docket control: how individual justices shape the brazilian supreme court’s agenda. Journal of Law ad Courts, p. 105-140, 2017.

ARGUELHES, D.; SÜSSEKIND, E. P. Building judicial power in Latin America: opposition strategies and the lessons of the brazilian case. Revista Uruguaya de Ciencia Política, vol. 27, nº 1, p. 175-196, 2018.

ARMANI, Gabriela F. Controle Judicial de Mandatos: Supremo Tribunal Federal e parlamentares federais (1988-2022). 218f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Universidade de São Paulo, 2023.

BARBOSA, A. L. P. Decidindo (não) decidir: instrumentos de influência individual na definição da agenda e do tempo dos julgamentos no STF. 2020. 209 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade de São Paulo, 2020.

BICKEL, A. M. Foreword: the passive virtues. Harvard Law Review 75, p. 40-79, 1961.

BOGÉA, D. Simbiose institucional: a interação entre partidos políticos e o Supremo Tribunal Federal no presidencialismo brasileiro. Dissertação (mestrado) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

BRINKS, D. Judicial reform and independence in Brazil and Argentina: the beginning of a new millennium? Texas International Law Journal, vol. 40, p. 595-622, 2004.

CHEIBUB, J. A.; LIMONGI, F.; PRZEWORSKI, A.; WANG, Y. Anti-majoritarianism and democracy: effects of judicial review on rights, economic growth, and inequality. Set. 2024. Available at: https://ssrn.com/abstract=5069081.

COX, G. W.; MCCUBBINS, M. D. Setting the agenda: responsible party government in the U.S. House of Representatives. New York: Cambridge University Press, 2005.

DAHL, R. A. Decision-making in a democracy: the Supreme Court as a national policy-maker. Journal of Public Law 6, p. 279-295, 1957.

DIMOULIS, D.; LUNARDI, S. Definição da pauta no Supremo Tribunal Federal e (auto)criação do processo objetivo. Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, p. 4357-4377, 2008.

DIXON, R. Responsive Judicial Review: Democracy and dysfunction in the modern age. New York: Oxford University Press, 2023.

EPSTEIN, L.; LANDES W. M.; POSNER, R. A. The best for last: the timing of U.S. Supreme Court Decisions. Duke Law Journal, vol. 64, nº 6, p. 991-1022, March 2015.

ESTEVES, L.F.G. A construção da pauta do Supremo Tribunal Federal: Quem, o quê, e como. Tese (Doutorado em Direito). Universidade de São Paulo, 2022.

FALCÃO, J.; HARTMANN, I. A.; CHAVES, V. P. III Relatório Supremo em Números: o Supremo e o Tempo. FGV Direito Rio - Série Novas Ideias em Direito, 2014.

FONTANA, D. Docket control and the success of constitutional courts. In: GINSBURG, Tom; DIXON, Rosalind (ed.). Comparative Constitutional Law. Northampton: Edward Elgar Publishing, 2011, p. 624-641.

HABERMAS. Between facts and norms: contributions to a discourse theory of law and democracy. Cambridge: MIT Press, 1996.

HALL, P. A.; TAYLOR, R. C. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova, n. 58, p. 193-223, 2003.

HILBINK, L. The origins of positive judicial independence. World Politics, vol. 64, n. 4, p. 587-621, 2012.

IMMERGUT, Ellen M. The theoretical core of the new institutionalism. Politics & Society, vol. 26, n. 1, p. 5-34, Março, 1998.

LANDAU, D. Abusive Constitutionalism, U.C. Davis Law Review, vol. 47, n. 1,

p. 189-260, 2013.

LIJPHART, A. Patterns of democracy: government forms and performance in thirty-six countries. New Haven: Yale University Press, 1999.

MAGALONI, Beatriz; MAGAR, E.; SÁNCHEZ, A. No self-control: decentralized agenda power and the dimensional structure of Mexican Supreme Court. Annual Meeting of the American Political Science Association, Washington D.C., 2010.

MALTZMAN, F.; SPRIGGS II, J.; WAHLBECK, P. Crafting law on the Supreme Court: the colegial game. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

MARAVALL, J. M.; PRZEWORSKI, A. (ed.). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

MATOS, A. M. Individualização decisória em Cortes Constitucionais: comparação entre o Supremo Tribunal Federal e a Suprema Corte de Justicia de la Nación. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade de São Paulo, 2022.

MENDES, C. H. Deliberative Performance of Constitutional Courts. 2011. 278 f. Trabalho de conclusão de curso (Tese). Doctor of Philosophy, University of Edinburgh, Edinburgh, 2011.

PATEMAN, C. Participation and Democratic Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1970.

PERRY, Jr. H. W. Deciding to decide: agenda setting in the United States Supreme Court. Cambridge: Harvard University Press, 1994.

PRZEWORSKI, A. Una defensa de la concepción minimalista de la democracia. Revista Mexicana de Sociología, vol. 59, n.3, p. 3-36, 1997.

PRZEWORSKI, A. Crises da democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

RÍOS-FIGUEROA, J. Fragmentation of power and the emergence of an effective judiciary in Mexico, 1994-2002. Latin American Politics and Society, 49(1), p. 31-57, 2007.

RÍOS-FIGUEROA, J.; POZAS-LOYO, A. Enacting constitutionalism: the origins of independent judicial institutions in Latin America. Comparative Politics, vol. 42, n. 3, p. 293-311, 2010.

RÍOS-FIGUEROA, J. El poder judicial ante el populismo y la erosión democrática: el caso de México, 2018-2021. Revista de Estudios Políticos, 198, p. 187-217, octubre/diciembre, 2022a.

RÍOS-FIGUEROA, J. Poder judicial e democracia. Instituto Nacional Electoral, Cuadernos de Divulgación de la Cultura Democrática, 1ª Edición, 2022b.

RODRIGUES, Fabiana A. Lava Jato: Aprendizado institucional e ação estratégica na Justiça. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2020.

SAAVEDRA-HERRERA, C. E. Democracy, judicialisation and the emergence of the Supreme Court as a policy-maker in Mexico. 2013. 275 f. Tese (PhD em Filosofia) – London School of Economics and Political Science, Londres, 2013.

SILVA, V. A. da. Pauta, público, princípios e precedentes: condicionantes e consequências da prática deliberativa do STF. Suprema: revista de estudos constitucionais, Brasília, nº 1, p. 22-56, jan./jun. 2021.

SKIPLE, J. K.; BENTSEN, H. L.; MCKENZIE, M. J. How Docket Control Shapes Judicial Behavior: A Comparative Analysis of the Norwegian and the Danish Supreme Courts. Journal of Law and Courts, p. 111-136, Spring 2021.

SWEET, A. S. Governing wih judges: constitutional politics in Europe. Oxford: Oxford University Press, 2000.

SU, Y.; HO, H. Judging, sooner or later: a study of decision timing in Taiwan’s Constitutional Court. Julho, 2014. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2467934. Acesso em 22 de jun. de 2024.

TSEBELIS, G. Processo decisório em sistemas políticos: veto players no presidencialismo, parlamentarismo, multicameralismo e pluripartidarismo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, p. 89-117, 1997.

TSEBELIS, G. Veto players: how political institutions work. Princeton: Princeton University Press, 2002.

VIEIRA, O. V.; GLEZER, R.; BARBOSA, A. L. Supremocracia e infralegalismo autoritário: o comportamento do Supremo Tribunal Federal durante o governo Bolsonaro. Novos Estudos CEBRAP, p. 591-605, 2022.

VIEIRA, O. V.; GLEZER, R.; BARBOSA, A. L. Infralegalismo autoritário: a estratégia do Governo Bolsonaro para implementar sua agenda iliberal sem apoio no legislativo. In: VIEIRA, O. V.; PIMENTA, R. M.; SILVA, F. S.; MACHADO, M. R. A. (org.). Estado de Direito e Populismo Autoritário: Erosão e resistência institucional no Brasil (2018-22). Rio de Janeiro: FGV Editora, 2023, p. 33-72.

VENCESLAU, T. S. “Problema de hora e lugar”: tempos decisórios e interações entre os plenários presencial e virtual do STF (2020-2022). 2024. 255 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Universidade de São Paulo, 2024.

Downloads

Publicado

2025-09-06

Como Citar

Venceslau, T. S. (2025). A VELOCIDADE DA REVISÃO JUDICIAL RESPONSIVA: AGENDA, TIMING E DEFESA DA DEMOCRACIA NO STF. REI - REVISTA ESTUDOS INSTITUCIONAIS, 11(3), 924–952. https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.956

Edição

Seção

Dossiê